Descubra.ART, nosso projeto de incentivo à visitação e percepção de arte em espaços usuais e não usuais dela, foi convidado para visitar a Art Rio 2018. Trazemos, agora, os pontos altos desse mega evento que reúne as galerias de arte mais reconhecidas às novas apostas do mercado nacional e internacional.

Já falamos, anteriormente, sobre o quanto a arte contemporânea é reflexo da sociedade atual e, talvez por isso, parece ser tão difícil de compreender. Mas, lembre-se, arte não precisa ser compreendida, sim sentida.

A Art Rio, por sua vez, realizada no fatídico final de semana em que boa parte do Brasil foi às ruas para dizer #Elenão, pareceu até indiferente a esse movimento tão importante no caminho anti ditatorial do nosso país. Entre noveau riches e famílias abastadas há séculos, a arte tipicamente asséptica de galerias de arte diz muito, mas sua intenção mercadológica sempre parece extirpar um pouco de sua intenção ideológica.

Ainda assim, alguns pontos altos (e baixos) valem comentar. Comecemos pela disposição dos espaços.

A feira de arte se dividiu entre PANORAMA, englobando as galerias já estabelecidas no circuito internacional de arte moderna e contemporânea e o programa VISTA, trazendo galerias jovens com curadorias mais experimentais e ousadas, ambas localizadas no pavilhão principal da Marina da Glória.

Em direção à Baía de Guanabara, áreas dos patrocinadores, obras ao ar livre, praça de alimentação (chamada de food park), pipoca e um cafezinho esplêndido eram servidos gratuitamente, bares e um lounge exclusivo para clientes Bradesco fechado com a típica cordinha VIP, além da área chamada PALAVRA contemplando leituras de poemas, performances e conversas curadas por Claudia Sehbe e Omar Salomão.

Um segundo – e menor – pavilhão chamado de ESPLANADA, trouxe os programas SOLO, com exposições solo de artistas expoentes curado por Genny Nissenbaum e Mara Fainziliber e BRASIL CONTEMPORÂNEO, estreante na Art Rio e organizado por Bernardo Mosqueira, buscando fugir do usual eixo Rio-São Paulo priorizando artistas das outras áreas do país

O programa MIRA, localizado na entrada do segundo pavilhão contou com curadoria de David Gryn trazendo narrativas audiovisuais de novas e consagradas artistas. Houve, ainda, exposição realizada no Bondinho do Pão de Açúcar e programação complementar em diversas galerias presentes na feira.

Vamos agora às percepções.

Muito diferente de um museu, a Art Rio oferece a oportunidade de chegar bem próximo às obras e vê-las por inteiro. Além disso, por seu propósito comercial, é possível saber os valores financeiros das obras e tentar entender um pouco melhor o mercado de arte e a valorização de artistas e períodos específicos.

 

PANORAMA

Lenora de Barros

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A obra Procuro-me (2002) de Lenora de Barros entrou para a wish list (ou lista de desejos em bom português) do Museu de Arte do Rio, que contemplou a feira com seus selos abaixo dos trabalhos que gostaria que completassem seu acervo, em especial no quesito Mulheres na Coleção do MAR. Além disso, outra peça da mesma série fez parte da curadoria de Laura Lima para o stand do Instituto Vida Livre, que resgata, trata e devolve animais silvestres de volta ao habitat natural.

Lenora de Barros é também poeta e também apresentou a instalação ping poem, mesa de ping pong ressignificada em obra de arte, ou seria o contrário?

Artista pra ficar de olho.

Marilyn por Bert Stern

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Três fotos do icônico último ensaio de Marilyn Monroe completavam a parede da Pinakotheke, logo na entrada da Feira. As fotografias de Bert Stern, feitas num ‘retiro’ de 3 dias em que ele passou com a estrela num quarto do hotel Bel Air, em Los Angeles, mostram uma Marilyn desnuda, perfeita em sua imperfeição.

Mamilos, cicatrizes e sorrisos sinceros são o resultado dessa imersão num momento em que a atriz já era acometida pela depressão. O ensaio conta com mais de 2500 cliques e foi feito para a Vogue, dias antes de sua morte.

 

Abraham Palatnik

Outra figura bastante presente pela feira foi o artista do Rio Grande do Norte, Abraham Palatinik. Apesar de muito conhecido pelo trabalho com objetos cinéticos (que se movem), estava representado em diversas galerias por quadros bidimensionais de filetes de madeiras recortados e recolocados, criando efeitos óticos que promovem a sensação de movimento. O artista tem 90 anos e mora no Rio de Janeiro.

Rubem Valentim

O baiano nascido em 1922 iniciou-se nas arte como pintor autodidata e sempre teve grande interesse pela cultura e as tradições populares nordestinas, mesclando, aos poucos, símbolos religiosos, com ênfase no candomblé partindo para distorções a partir de suas formas geométricas. Artista negro, com grande representatividade étnica em seu trabalho, estava presente em várias galerias da Art Rio

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BRASIL CONTEMPORÂNEO

Uma grata surpresa, o Programa Brasil Contemporâneo une ArtRio Social e o Prêmio FOCO e busca derrubar as fronteiras geográficas e ideológicas que mantêm o status da arte contemporânea no eixo Rio-São Paulo, redirecionando o foco para além desses estados e buscando contemplar e incentivar a relação com as artistas espalhadas pelos 8,5 milhões de km² de Brasil.

Diego de Santos na Galeria Sem Título

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Solo Diego de Santos na ArtRio. foto divulgação Sem Título Arte

 

 

 

A Galeria Sem Título (esse é o nome da galeria mesmo) trouxe o artista Diego de Santos, natural de Fortaleza e habitante do Rio de Janeiro. Com humildade e generosidade incomuns à classe artística, Diego nos conduziu pelas obras alinhavando uma conversa que ia de teorias conspiratórias à ocupação de camelôs nos trens da cidade, passando pelas constantes obras inacabadas típicas das gestões governamentais e burocráticas do país.

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O artista nos convidou a experimentar as obras e repensar relações cotidianas dentro do espaço de cubo branco proposto pela ArtRio. Esse tipo de deslocamento nos alimenta e dá esperança para, efetivamente, repensar os espaços da arte, de artistas e galerias brasileiras nos cenários nacional e internacional.

 

 

Gabriele Gomes na Soma Galeria

sei que alguém no futuro também lembrará de nós.

Safo

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A Soma Galeria, por sua vez, trouxe a curitibana Gabriele Gomes que mescla o gesto de colecionadora ao ato de pintora. A musealização de objetos cotidianos, mais uma vez, chama atenção para uma história da arte mesclada à transformação da paisagem causada pela ação humana e seus muitos resíduos descartados, alterando os espaços e relações naturais.

Entre azuis klein, potes de requeijão, conchas repletas de purpurina, esponjas de cozinha e diversos rastros gerados pela violência civilizatória e a cultura de consumo, construindo memórias afetivas, a curadoria de Laura Erber explicita o processo em etapas da artista de “viajar, pesquisar o campo, selecionar, guardar, rever, dispor, organizar e museificar”. Mais um ponto alto da feira.

Pedro Marighella na RV Cultura e Arte

A ascendência rebelde do artista é inegável em seu trabalho. Aposta da RV Cultura e Arte, o neto de Carlos Marighella (um dos principais organizadores da luta contra a ditadura que chegou a ser considerado inimigo número 1 do golpe de Estado), estuda as relações e percepções territoriais a partir das manifestações culturais e levantes populares da Bahia.

O potencial crítico da diversão se destaca a partir de seu olhar sobre processos culturais por meio de fotografia, ilustrações, áudios e textos curtos. A curadora Olivia Ardui destaca o caráter paradoxal das manifestações de rua que transitam entre a extrema alegria e a agressividade violenta. O sincretismo também é marcante como filosofia e processo de criação de suas obras.

Instituto Vida Livre

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Bombay Sapphyre

Outra grata surpresa foi o stand da Bombay Sapphyre, um dos melhores gins do mundo. Pra complementar o drink maravilhoso feito na hora com espuma de gengibre, havia uma infinidade de opções para complementar, de anis estrelado a canela, passando por zimbro, cardamomo e tinta comestível em spray para colorir a espuma. Delícia!

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Sempre teve curiosidade em saber os valores das obras? Ou se interessa em comprar uma? A ArtRio fez uma página pra vender algumas das obras que estavam expostas na feira. Referência abaixo. Cola lá

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